A esfinge de Pandora

Introdução à boceta de Pandora

Pois bem, na boceta que Zeus entregara à Pandora, continha sentimentos. Aqui começa a primeira questão que não se define. Querem dizer que havia na caixa sentimentos ruins. Dado que nas primeiras eras da humanidade, considerava-se o sentimento uma coisa tola, algo que faz o guerreiro titubear na batalha.
Daí corriam leis que tratavam de que, “se tu desembainha tua espada, use-a”. Como “estumar” um cão. Homens não choravam. Homens não sentiam nada. Hesitar um instante que fosse significava estar morto. Não somente por outros homens, mas também por todas as feras que viviam soltas, e com fome, pelo planeta, na sua era mais selvagem. Mamutes e dentes-de-sabre. Entre feras, enxames e inescrupulosos vivia o homem. E, a mulher.

Ainda com pelo e andando meio de quatro na selva. Urrando e devorando. A fêmea desta espécie, ao contrário das outras espécies de mamíferos, sentia-se melhor perto do macho. O macho também tinha essa preferência e pagava seu prazer com proteção e provimentos.
A fêmea pagava sua segurança, com prazer e cuidados. Uma simbiose se formava para todo o sempre.
A natureza sempre proveu mais fêmeas que macho e a disputa por machos, entre as fêmeas, passou a ser uma constante.
A fêmea passa a desenvolver artimanhas e a servir o macho cada vez mais, a ponto de deixá-lo dormindo e ir buscar frutas frescas para quando ele acordasse. O macho já acordava satisfeito, com frutas e mel a o seu lado. Depois de comer, mais saciado, uma copulada rápida, saía para onde estivessem os caçadores. A noite chegava. E era à noite que tudo ficava pior.
Poucos param para pensar em uma noite completamente escura (em um céu completamente escuro). Uma floresta completamente fechada. Direito a comer tinha apenas quem sentisse o cheiro ou sentisse vibrações. Não se enxergava, como bem assinalam os antigos, “um palmo à frente do nariz.”. Isso quer dizer que se você por a ponta do polegar na ponta do seu nariz e esticar a mão um palmo, você não verá mais a ponta do seu dedo mínimo. Isto é verdade e pode ser comprovado por quem estiver em uma mata densa, longe das luzes artificiais.

Alguns homens, e mulheres, já no período em que perdem os pelos e se mudam para as cavernas e “prendem” (ou detêm) o fogo, passam a desenvolver sentidos mais apurados. Uns aprendem a seguir pegadas, outros a ouvir os sons das florestas, e a dizer o que se aproxima. Não são os mais fortes, mas acabam se unindo com os mais fortes e líderes dos agrupamentos, já humanos, mas um tanto arcaicos. Desprovidos de comunicação eficiente, tinham vida muito curta; como tudo na selva, nada morria doente ou velho. Tudo o que se movia seria devorado vivo. Acredite: se você vivesse na selva, você seria um ser muito estressado e apavorado.
Nesse cenário, as fêmeas eram sempre frágeis e necessitavam de proteção. Então que a fêmea se mostrava chorona, manhosa, fraca, “ganjenta”, mimosa, fresquinha, ficava inventando coisas para distrair o macho.
Os sentimentos eram ruins, por que na visão do homem de então, tornava fraco aquele que mantivesse, ou desenvolvesse, sentimentos. Assim, Zeus entregou à Pandora uma boceta com sentimentos ruins. E advertiu-a para que não abrisse a caixa, por que algo ruim sucederia disso.
E, esta é a segunda questão que não se define. Pois que, sabe-se muito bem que Zeus, sendo capcioso, contava com um dos sentimentos mais aguçados da mulher: a curiosidade.
O que de fato ocorreu. “Roxa” de curiosidade, Pandora abre a boceta e dentro dela saem (escapam?), todos os sentimentos. Mais que depressa Pandora fecha a boceta, prendendo lá dentro apenas um sentimento, que não escapara a tempo: a esperança.
E neste ponto temos a terceira questão que não se define. A esperança é um sentimento ruim. Ou então, a mulher não tem esperança. Já que esses sentimentos seriam para as mulheres.
Esse presente de Zeus era uma vingança contra outro deus: Prometeu. Este roubara o fogo do Olimpo e o entregara aos homens; queria auxiliar no desenvolvimento da tecnologia humana. Atitude com a qual o Senhor do Olimpo não concordava. Fogo para os homens e sentimentos para as mulheres. Sem a esperança.

***

A cultura Greco-romana (e um tanto judaica) tem em seus inconscientes essas emanações mitológicas e no decorrer da história a mulher aceita passiva o papel de pertencer a um macho provedor; de segurança e víveres. Evidente que o homem sempre precisou da mulher para o sexo e para os afazeres domésticos. Deveria ser uma troca justa, mas, cada qual passou a acreditar que estava dando mais que o outro na troca. E, a medida que os perigos maiores foram se dissipando, a área de abrangência da mulher foi aumentando, seu medo enfraquece e o homem vai perdendo poderes sobre a mulher.
A disputa é por liberdade, e posse.

Comentários

  1. Nossa. Muitas coisas poderiam ser ditas.Mas o destaque deve ser de sua obra que está magnífica. Você conseguiu transmitir bem o se propôs a fazer. Creio que, em partes, o caráter evolutivo(feminino)atual só mostra que não precisava de competição ao longo dos séculos. Fora necessário, claro! porém bastava o respeito de igual pra igual. Certa estou de que um homem valoriza muito mais uma mulher que não depende dele, que não vive à sua sombra. Ela por sua vez não deve esquecer que é,sobretudo o lado direito do cérebro:pura emoção, enquanto ele, lado oposto:a razão. Ambos devem ser reconhecidos e respeitados para que haja crescimento e harmonia. Enfim, Adoro te ler.

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  2. E agora, nos tempos modernos, a disputa entre o fogo e a esperança, ainda determina ações nos lares. Sem ironia alguma, o quem dá mais, pode acabar com um casamento.
    E a transformação que passa o ser macho e o ser fêmea? A inversão desses valores...

    SEU TEXTO É FANTÁSTICO HEHEH

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  3. PARABÉNS! BLOG DO KARALHO...MANDA VER.
    Marquesdecasanova.com

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